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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Crise Civilizatória

O contexto histórico em que vivemos hoje, crise civilizatória, traz à tona a complexidade e ambigüidade do passado, bem como o caráter problemático da interpretação histórica. A rejeição apressada de uma determinada concepção como um todo, sem destacar nuances válidos dessa teia, implica numa questão ideológica: O mais curioso é que essa postura foi aceita por expoentes teóricos tanto de direita como de esquerda. Houve um apagão teórico ou como diz Russel Jacoby, uma amnésia social.Assim numa era que esqueceu a teoria,a teoria tem que começar na recordação.
Como diz Jacoby: há a história que recorda e a história que se origina numa necessidade de esquecer. Ao assumirmos a postura de resgatar o sentido histórico de transformação, não significa o simples resgate de uma teoria, mas a sua contextualização.E nesse sentido a teoria marxiana foi pródiga. O grande entrave foi que todo esse acervo não resultou numa mudança da práxis histórica. A conseqüência disso foi a perda do caráter revolucionário que essa teoria possuía assim como o status de paradigma que o socialismo fundamentado no marxismo assumia para a política de esquerda.

O fato histórico de o marxismo ter sido reduzido, e se reduzir ainda em certos casos, ao velho materialismo fecundado pela dialética ou em idealismo às avessas que faz dele uma metafísica materialista, pode se produzir justamente por se ter esquecido ou deixado de lado na penumbra o conceito de práxis como conceito central (não só interpretar, mas também transformar). Adolfos Vasquez.

Essa redução foi o resultado da incapacidade socialista de tornarem-se dialéticos tanto na interpretação como na execução da teoria marxiana. Esse foi o ponto crucial que afetou toda possibilidade de transformação, ou seja, a postura de manter a lógica neoliberal na execução de um novo projeto que se dizia revolucionário. O que se fez foi remendar um tecido novo com pano velho, ou em outras palavras, a tentativa de implantação de um novo modelo utilizando a lógica, a pratica e os vícios velhos foi a principal causa da inviabilização de alternativas socialista, justamente por perder sua característica de alternativa.

Ora, o PSOL se apresenta como partido socialista sem deixar claro o sentido da sua práxis para poder ser identificado como socialista. Afinal, o partido pretende atuar de forma a transformar historicamente as relações sociais? Pois seria essa a característica de um partido socialista. Ou será que usa velhos emblemas e velhas bandeiras desprovidas de significado para ocultar projetos particulares de grupos ou pessoas na obtenção do poder político? A crise partidária da qual resultou a formação do PSOL, foi justamente isso: a utilização da bandeira de um modelo social para justificar a obtenção do poder político. Não sendo essa a razão da cúpula partidária, torna-se crucial modificar a forma de discussão que aliena a maioria do partido nas discussões ficando reduzida a ação dos filiados a aprovação de nomes para se candidatarem como representante do partido ou para legitimar propostas que chegam prontas. Mas e o projeto?

O que se pretende fazer com a ocupação do espaço de poder? O que é possível fazer a partir da vontade política e o que não é possível?

Para que um partido seja uma alternativa é preciso criar alternativas do exercício do poder internamente, a partir de uma nova lógica, numa nova forma de organização e do exercício do poder. Decidir os rumos partidários. Criar brechas escatológicas no dizer de Ernest Bloch, ou seja, espaços onde se exerçam práticas alternativas em detrimento as práticas conservadoras.

Assim seremos capazes de viabilizar um processo onde poderíamos obter uma utopia concreta, resgatando a esperança de um outro modelo social: O socialismo.

Dessa forma o PSOL não seria uma sigla vazia, nas um emblema de projeto de luta.



Guaraci Antunes de Freitas

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